Artigo

Em Sintonia com a Modernidade.

01 de março de 2013 10:00

“A cultura moderna inflacionou a exterioridade através de todos os meios da tecnociência e de comunicação. O mundo das pessoas foi totalmente exteriorizado e devassado. (…) Para conhecer melhor uma pessoa precisamos considerar o seu interior, seu caráter, as suas virtudes, o seu modo de ser, a sua visão de mundo.”
Leonardo Boff

Hoje vivemos num mundo de macro fenômenos que assolam as instituições e os indivíduos. Mudanças fundamentais em nossa forma de pensar e agir estão sendo exigidas. As diversas crises em grande parte tem o efeito de forçar o que é bom e positivo sair de dentro de nós na tentativa de superá-las. Nesse sentido, é imprescindível enxergar o grande quadro do mundo e as tendências desse novo milênio, para entender o pequeno mundo das instituições e o micro mundo do indivíduo.

Iniciando com uma breve reflexão entre o século passado e o atual, constatamos que, se no século XX presenciamos, horrorizados, a guerras internacionais e a outras centenas de conflitos menores, e entramos no século XXI com a face do terror e os seus sinistros desdobramentos. Tudo indica que a educação em geral e a formação acadêmica tem fracassado como “munição” diante das questões fundamentais da existência humana. Em outras palavras, entendemos que não há mais espaço no contexto presente para o modelo baseado nos automatismos – aprender a fazer -, as miopias e as estreitezas de visões meramente disciplinares e especializadas. Precisamos sim, partir para o resgate das articulações do corpo, alma e consciência, de uma visão de altitude e profundidade, de aprendizagens que nos tornem capazes de vencer desafios.

Mas… Por onde começar????

Precisamos conspirar por uma nova forma de interagir, facilitando o desenvolvimento da inteligência emocional, simbólica e relacional – alerta já tão divulgado pela mídia. Esse caminho já começa a ser trilhado. É muito interessante analisar que o movimento atual – gerado pelos inúmeros fatores mundiais – tem caminhado em direção ao desenvolvimento das pessoas. Todo esse processo vem sendo estudado dentro de um contexto maior e não apenas centralizado em uma esfera do potencial humano. Claro que os motivos dessas alterações também possuem uma dimensão maior, mas o que gostaríamos de ressaltar é essa atitude de se pensar o ser humano de forma integral e não fragmentada nas diversas situações e atuações que a vida possibilita e que representa um novo momento na sociedade.

Esse estágio atual de consciência do papel e necessidades do ser humano nos permite vislumbrar um trabalho fantástico e bastante necessário em todos os segmentos da sociedade que trabalham com pessoas. Por exemplo, podemos ver hoje profissionais do meio acadêmico e profissionais do meio empresarial, juntos, discutindo Educação Corporativa;  a nova dimensão do ensino, o qual está sendo sistematizado e realizado dentro das instituições/organizações, congregando o que poderíamos chamar de “equipes multifuncionais”. Dessa forma, podemos sentir que o esforço das pessoas em se desenvolver não é isolado, ele conta com o apoio e esforços de uma boa fatia da sociedade na qual estamos inseridos. E como consequência dessa movimentação, vem-nos a emergente indagação:

Quais os principais atributos do profissional compatível com a era do conhecimento?

Essa é uma pergunta que já foi formulada outras vezes! Sem dúvida nenhuma, os profissionais de sucesso serão aqueles que desenvolverem em nível de maestria a sua capacidade de “aprender a aprender”. O fator mais importante estará subjacente ao processo de formação. Importa, sobretudo, a competência em aprender, em escrever, em se comunicar, se relacionar, criar, pensar, dialogar, abstrair, entre outras. Quem aprende a aprender pode continuar aprendendo durante toda a vida. Além disso, é um profissional que “pensa com a própria cabeça”, sem depender de “receitas prontas” e de modismos do momento, capaz de pensar e agir estrategicamente com grande iniciativa e originalidade.

Hoje, os profissionais das diversas áreas e principalmente da área de gestão estão convocados a serem líderes renovadores, transformando os grupos de trabalho em verdadeiras equipes, buscando gerenciar com pessoas e não, gerenciar pessoas.
ADIZES, em seu livro “Os Ciclos de Vida das Organizações”, nos fala sobre um novo enfoque que começa a surgir nas organizações, onde as equipes partilham responsabilidades e assumem as decisões conjuntamente. De acordo com esse autor (2001, p. 326 – 327),

(…) a organização aprende e identificar, analisar e resolver problemas funcionais sem a caça às bruxas, sem atribuições pessoais de culpa. Ela se concentra naquilo que está errado e precisa ser imediatamente resolvido, e em como fazer isso. Deixa-se de lado quem errou, quando se errou e por que alguém mais errou.
O que, não quem;
Agora, não quando;
Nós, não eles;
Como, não por que (…).

No contexto educacional não é diferente. O educador é um gestor por excelência! Ele tem sob sua responsabilidade grupos de estudantes, fluxos, processos…, que carecem de sua competência como gestor para o sucesso dos objetivos e metas planejados.
Hoje, mais que antes, acreditamos na importância de se investir na transformação de grupos em equipes, de gestãohierarquizada – uns decidem e os outros acatam – para um modelo de gestão participativo e compartilhado. Sabemos, no entanto, que nesse percurso encontramos muitas dificuldades, mas também oportunidades.

Na nossa opinião,
um dos maiores obstáculos é o apego ao passado,
aos valores do ter e do poder,
à obsessão do resultado a qualquer preço,
o medo de desabrochar e do Ser.

Outro grande obstáculo que surge em decorrência da modernidade, dos avanços da ciência e da tecnologia e que interferem na metodologia de trabalho dos profissionais gestores é o fato das pessoas viverem a mais angustiante e paradoxal de todas as solidões psicossociais, expressada pelo abandono de si mesmo na trajetória existencial – estamos nos referindo aqui ao nosso mundo interior.  As pessoas estão próximas fisicamente, mas muito distantes interiormente, conversam sobre o mundo que as circundam, mas não dialogam sobre si mesmas. A pior solidão é aquela em que nós mesmos nos abandonamos, e não aquela em que nos sentimos abandonados pelo mundo. O homem moderno, via de regra, tem se tornado um profissional que aprende a usar, com determinados níveis de eficiência, o conhecimento como ferramenta de trabalho. Porém, tem grandes dificuldades para usar o conhecimento para desenvolver a inteligência, conhecer os limites e alcances básicos da construção de pensamentos, regular seu processo de interpretação através da democracia das ideias e tornar-se um pensador que trabalha com dignidade seus erros, dores, perdas e frustrações, e aprende a se colocar no lugar do outro e a perceber suas necessidades psicossociais. Por outro lado, uma grande crise é sempre uma grande oportunidade de aprender e evoluir! A exemplo disso, constatamos que, apesar da violência e solidão existencial humana que tem caracterizado essa nova era, multidões de todas as nacionalidades estão clamando por um resgate da con-vivência e  pela paz. Cremos assim que estamos testemunhando o nascimento de uma nova humanidade, mais íntegra e vasta.

O grande desafio é o da reconstrução do humano, a partir dos escombros inevitáveis de um sistema insustentável. A mudança do mundo tem início em nossos próprios corações. As revoluções fracassam por serem tentativas de mudar a realidade exterior sem o pré-requisito da autotransformação.

Mudar o mundo é, antes de tudo, mudar o olhar…

Com o objetivo de promover essa reconstrução pessoal e coletiva, comungando assim com o pensamento de grande parte dos especialistas em gestão, no consenso de que o futuro pertence às organizações baseadas em equipes articuladas, a escola Senac planeja suas ações didáticas, buscando uma sintonia maior com uma visão sistêmica do trabalho pedagógico. A intenção é articular e ressignificar as ações através dos eixos tecnológicos/segmentos, oportunizando um processo contínuo de compartilhamento das experiências de aprendizagem dos educadores, em torno do desafio de superar dificuldades impostas pelas condições adversas. A opção metodológica participativa visa desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas para a construção de competências específicas para esse tipo de liderança.

Sabemos que existem muitos passos a serem dados em direção a uma maior sintonia com a modernidade. Mas, um dos primeiros passos é compreendermos que a multifuncionalidade dos profissionais, tão necessária, só pode ser conseguida por pessoas que sabem quem são, o que estão fazendo e para onde querem ir. Também vemos a contínua necessidade de integração que, sem dúvida, surge do reconhecimento da lei de sistemas e de suas múltiplas interdependências, cujo princípio e fim depende do estado do indivíduo.

Enfim, estamos vivendo a confluência entre o passado e o futuro, em que valerá mais que tudo a aprendizagem que obtivermos em todos os níveis – pessoal, interpessoal, organizacional e social. Certamente essa transformação do homem no que se refere à sua trajetória pessoal, profissional e sócio educacional não será fácil, mas absolutamente desafiadora. E seguramente esse caminho somente será trilhado por aqueles que se considerarem verdadeiros agentes de mudança. Este é o primeiro desafio!

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

ADIZES, I. Os Ciclos de Vida das Organizações: Como e porque as Empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. 373p.

BOFF, Leonardo. Meditação da Luz: o caminho da simplicidade. Petrópolis, Rj: Vozes, 2009.
O’DONNELL, K. Endoquality: As dimensões emocionais e espirituais do ser humano nas organizações. Salvador, BA: Casa da Qualidade, 1997. 121p.

Cursos Senac Ceará

Clique na área do seu interesse

Cursos por área

Gastronomia Hospitalidade Produção de alimentos Segurança alimentar Turismo Artes Comunicação Design Moda Beleza Saúde Comércio Gestão Conservação e zeladoria Idiomas Informática