Artigo

O Processo Trabalho-Educação na Sociedade do Espetáculo de Consumo

30 de julho de 2012 16:29

Conhecimentos sempre acompanharam a organização social e para cada modo de produção prevaleceu uma forma de interpretar a realidade, assim sendo o presente artigo visa refletir o processo trabalho-educação entendendo que este faz parte de uma especulação filosófica articulada com uma determinada teoria explicativa, para que esta se torne inteligível e estruturada segundo princípios que pressupõem pontos de vista e convicções que determinam a atitude do ser humano referente a um grupo, classe ou sociedade em geral. Neste estreito vínculo busco elaborar em linhas objetivas uma compreensão sócio-histórico-dialética própria desta relação que se fundamentou na sua indissolubilidade manifestada ao longo da história. Tal reflexão segue um contexto teleológico para analisar a formação das subjetividades em uma perspectiva biopsicossocial intrínseca a esta questão.

O que é educação na sociedade da produção de consumo? Na construção do conhecimento não bastam classificar e avaliar dados, mas estabelecer uma projeção sobre todos os valores que o envolvem. A produção do capital se organiza a partir de classes dominantes e discursos burgueses, pois um sistema capitalista organizado significa determinantemente uma sociedade de classes, a qual gera seus próprios intelectuais orgânicos: advogados, arquitetos, engenheiros, administradores, técnicos de informática, médicos, assistentes sociais, pedagogos, psicólogos…, indispensáveis para a reprodução do Status Quo. Os meios de produção de uma sociedade determinam seu espaço coletivo, visto que para cada organização de um povo prevalece uma forma de interpretar a realidade. Este poder social traduzido em forma de poder econômico, transforma-se em poder político materializado nas políticas que incluem e excluem os indivíduos socialmente e assim o processo trabalho-educação reflete apenas o desenvolvimento de forças produtivas da sociedade vigente.

Cada sociedade cria um determinado padrão de desgaste em função do consumo e gasto de energia pelos indivíduos na indústria da produção social; e a organização do nosso sistema político é o fator fundamental destas manifestações.

Conhecimento, tecnologia e inovação são elementos essenciais na relação homem e trabalho, os quais geram novas referências na formação do sujeito laboral.

Mudanças nas formas de produção vão desenhando os contornos das propostas educativas, visto que a cada novo processo histórico, cuja sociedade sofre transformações, conforma um novo sistema correspondente às demandas de desenvolvimento sócio-político-econômico. Ao analisar o modelo americano e o fordismo, Gramsci já apontava as competências dos trâmites pedagógicos no que diz respeito a valorização do capital, identificando a partir das relações de produção e formas organizadas de gestão no  mundo do trabalho – predominantemente hegemônicas – a gênese de neófitos comportamentos, atitudes e valores. (GRAMSCI,1978)
A produção racionalizada faz nascer agora um novo homem, apto a adaptar-se a outra metodologia de trabalho que requer da educação a articulação de novos mecanismos de coerção social e novas competências na maneira de viver, sentir e pensar.

Assim sendo, esse processo hegemônico mobiliza uma reforma econômica, a qual assume expressões reformistas nos âmbitos intelectual e moral. Esse novo modelo de trabalho assume uma característica fragmentada, transformando o exercício manufaturado em processo industrial fazendo com que tanto as relações sociais e produtivas, quanto a escola assumam a educação do trabalhador para esta cisão, desarmonizando saber científico e saber prático, que passam a ser distribuídos de forma desigual, estimulando a alienação do trabalho, consequentemente dos trabalhadores.

Em meados do século XX, um movimento social de fábrica, isolou essa política capitalista para estabelecer uma nova história desagregada de episódios da opressão do capital e/ou movimentos messiânicos que intencionavam vínculos mecânicos entre classes, cujo grande intelectual era representado por um sacerdote eclesiástico. Um espírito popular criativo de resistência ao sistema, despertou sua consciência para uma cultura apta a dilacerar os paradigmas folclóricos dos livros didáticos e da religião alienante, no intuito de elevar seu povo a um nível de discussão mais filosófica sobre a realidade imposta.

As análises dos discursos das ciências, dos jogos de poder e verdades na produção do conhecimento, requerem agora o aperfeiçoamento da mente humana que é uma realidade viva, a qual se desenvolve em virtude de sua própria história e experiência. As visões contraditórias estimulam uma perspectiva crítica de nossas práticas sociais e subjetivas necessárias na superação das fórmulas convencionais, a fim de desconstruir máscaras e revelar conexões ocultas entre representações e saberes constituídos a partir de modelos. Portanto, é preciso detectarmos os pontos de origem das nossas apropriações cognitivas e assim apreender nosso próprio poder criativo para elaborarmos a partir de si outras formas de expressão e interelação de seres que compartilham um mesmo processo sócio-histórico-dialético. Pedagogias inovadoras vêm sendo realizadas na construção de um novo paradigma que valorize a importância da escuta, do vínculo e do acolhimento.

“(…) a pedagogia, é aquela parte do saber que está ligada à razão que não se resume à razão instrumental apenas, mas que inclui a razão enquanto razoabilidade; a racionalidade que nos possibilita o convívio, ou seja, a vigência da tolerância e, mesmo, do amor.” (JÚNIOR, 2007)

 

Dentro dessa concepção, o processo educacional é permeado pelo desafio à criatividade docente na constituição dos sujeitos, contribuindo para a desconstrução do conjunto de aparatos construído em torno do objeto trabalho. A complexidade que foi adquirindo a ordem social gerou uma crescente necessidade de atenção ao papel da educação, no entanto a intenção era que surtisse efeitos importantes na manutenção da qualidade da força laboral dos trabalhadores a serviço do capital. Repensar a práxis educativa, passou a ser palavra de ordem nas representações mentais que fazem expandir a consciência num processo dialético de compreensão da realidade objetiva buscando otimizar as respostas  às exigências imediatas da ação humana e propiciar a explicação dos elementos da vida.
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações. (BRANDÃO, 1995)

Nesse contexto, o processo de produção do conhecimento deve ser elaborado como algo a se dar para além das formas como os homens se organizam economicamente. O ato humano de conhecer implica agora em estabelecer nexos entre os objetos e as situações da realidade gerando um sentido na consciência subjetiva.
Assim sendo, é na existência efetiva dos homens, nas contradições de seu movimento real e não numa essência externa a essa existência, que se descobre o que o homem é: a existência humana produzida pelos próprios homens, um produto do trabalho, o que implica dizer que ele não nasce homem, mas forma-se homem, necessitando aprender então a produzir sua própria existência. Portanto, a produção do homem é, ao mesmo tempo, a formação do homem, isto é, um processo educativo. A origem da educação coincide, logo, com a origem mesma do homem.

Bibliografia
SAVIANI, Dermeval. Sobre a concepção de politecnia. RJ: Fundação Oswaldo Cruz, 1989.
BRANDÃO, Carlos R. O que é educação, 33ª Ed. Brasiliense, São Paulo. 1995.
JÚNIOR, Paulo Ghiraldelli. CEFA, setembro 2007.
CORAGGIO, J.L. Propostas do Banco Mundial para a educação: sentido oculto ou problemas de concepção. In: WARDE, M.J. et al. O Banco Mundial e as políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 1996, p. 75-123.
DOURADO, L.F. A interiorização do ensino superior e a privatização do público. Goiânia: UFG, 2001.
DOURADO, L.F. O público e o privado na agenda educacional brasileira. In: AGUIAR, M.A.; FERREIRA, N.S.C. (Orgs.). Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2001a.
GRAMSCI, Antonio. Obras escolhidas. Sã o Paulo: Martins Fones, 1978
GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Graal, 1978.

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