Artigo

Desafios da construção do conhecimento nas gerações Y e Z

28 de novembro de 2013 16:26

Vivemos na era da informação, um tempo onde a notícia corre o mundo em questão de segundos, mas qual a qualidade dessa informação? Qual a sua participação na construção do conhecimento, nos processos de aprendizagem? O acesso à Internet tem sido crescente a cada ano, mas podemos inferir que hoje as pessoas têm mais acesso à informação ou que o hábito de leitura das pessoas tem mudado? Entretanto, qual a qualidade desses processos? E quanto ao conhecimento? Em que momento essa imersão no chamado ciberespaço1 contribui significativamente para a aprendizagem, sendo ainda mais específico, como contribui nos processos de educação profissional das pessoas?

A chamada cibercultura, que vem transformando a sociedade desde os anos de 1960, influencia cada vez mais os modos de vida da sociedade contemporânea. O chamado ciberespaço está em amplo desenvolvimento com a implementação de redes e tecnologias de diversas espécies, dando suporte às novas formas do pensar e de se comunicar na era da informação, influenciando nas relações e no mundo do trabalho.

Estamos diante de um momento histórico ímpar, temos uma geração que nasceu em um mundo analógico e viu, rapidamente, o mundo tornar-se digital, como também a geração Z, que já nasce na era digital, a “geração touchscreen”, ou, como afirma Douglas Rushkoff’s (1997), Screenagers2. Essa geração tem uma relação diferente com a tecnologia, como se ela fizesse e/ou fosse uma extensão do próprio corpo, como uma prótese3, o que, por sinal, não é nada novo, desde o ábaco, passando pela calculadora, até os tablets, ipods, ipads… Tornaram-se próteses, seja da memória, do raciocínio, da expressividade, entre tantas outras próteses que utilizamos sem perceber. Para constatarmos isso, basta tentar contabilizar quantos números de telefone você tem decorado. É claro que isso não é mais útil, basta utilizar a nossa prótese de memória de bolso, o celular, ao contrário das pessoas consideradas “antigas”, que tinham suas linhas telefônicas na década de 1970 a 1990 (que, por sinal, representavam um grande patrimônio) e sabiam de cor a maioria dos números do seu caderninho de telefones de páginas amareladas. Utilizamos próteses chamadas redes sociais para expressar nossos sentimentos, indignações, frustrações e aliviar as solidões. Para isso, os “antigos” faziam algo que não se consegue pensar hoje em dia, colocar a cadeira na calçada e conversar com os passantes, com o vizinho, com o cônjuge.

A chamada Geração Y, formada pelas pessoas que nasceram no início dos anos 1980 (PALFREY e GASSER, 2008), cresceu vendo essas tecnologias se desenvolvendo com uma velocidade muito grande, desde os discos de vinil, jogos eletrônicos, computadores, passando dos telefones sem fio, até chegar aos telefones celulares multifuncionais, conhecidos como Smartphones.

Já a Geração Screenager participa de várias redes sociais ao mesmo tempo, interage com inúmeras pessoas de forma virtual, e, muitas vezes, relaciona-se com maior intensidade virtualmente que pessoalmente. Participa de manifestações e abaixo-assinados online, fotografa tudo, pessoas, animais, lugares, além de ouvir/baixar músicas da Internet, gravar e editar vídeos, copiar textos online, assumir outras identidades, criar e moderar comunidades virtuais, produzir seus próprios conteúdos e interagir com “tribos onlines”, de acordo com interesses comuns. É uma geração que faz várias coisas ao mesmo tempo. Cada vez mais autodidata, ela se utiliza de fóruns, redes sociais, vídeos, tutoriais e busca os assuntos que lhe interessam. Na velocidade, formato e lugar convenientes, essas pessoas descobrem habilidades, vocações, criam e desenvolvem suas carreiras no mundo virtual. Vivemos em um momento onde tanto as pessoas quanto os equipamentos são multifuncionais.

Diante deste contexto, como estão as instituições de formação profissional, em um momento histórico, onde a velocidade da informação força os cursos e formações a serem cada vez mais curtos, mais segmentados, com a necessidade de uma formação rápida para atender não apenas a demanda do mercado, mas principalmente as demandas pessoais de consumo dessa geração? Um desafio é oferecer uma educação profissionalizante de qualidade sem negar as novas tecnologias, ou supervalorizá-las como principal instrumento de ensino apontado como padrão de qualidade, no caso das grandes redes de educação formal. Tablets em sala de aula e lousas digitais são recursos importantes e complementares, mas não fundamentais. Os livros, o contato humano, ao contrário da tecnologia, não se tornam obsoletos. A afetividade, a empatia, o contato e as experiências sensoriais são potencializadoras da aprendizagem. Adaptar-se aos novos modos de aprender dessa geração, que aprende com a mesma velocidade que se desinteressa pelo assunto, é outro desafio, entretanto, não podemos oferecer cursos rápidos comprometendo a qualidade.

Precisamos nos atualizar constantemente sim, mas sem o constrangimento de estarmos reféns do mercado e da obsolescência programada. Não devemos tratar como modismo, ou adesismo deslumbrado a aquisição e renovação de um novo parque tecnológico no interior de nossas salas de aula e laboratórios diversos, pois o equilíbrio é fundamental no uso das novas tecnologias. Devemos nos apropriar das novas tecnologias ao invés de lutar contra elas, uma vez que estas fazem parte da vida das pessoas com tamanha intensidade. As interações e processos de aprendizagem não se encerram em sala de aula, eles podem ter continuidade no ciberespaço.

A aprendizagem é um processo contínuo e ininterrupto do ser humano, implica acesso, compreensão e absorção de um fazer e/ou de um pensar por meio de um esforço da vontade do sujeito, que aprende estimulado por outros sujeitos mais experientes e pelo ambiente em que ambos estejam inseridos. Ao que aprende, resta-lhe desejar o saber e se disponibilizar emocional, intelectual e fisicamente para permitir que esse fenômeno aconteça. É necessário que ele de fato colabore, aja de modo direto e proativo, a fim de que o processo de aprendizagem inicie-se e consolide-se com o êxito esperado. Mas, para isso, o aprendiz deve estar bastante estimulado, pois, sem motivação, não há ação, seja de qual for sua natureza. É neste momento que entra o educador. Seu papel é fundamental na exposição e no convencimento da importância de certos saberes para a vida de todo indivíduo. Compreendendo bem o porquê e o para que se deve aprender um determinado saber/fazer, ele estará apto a refletir sobre um dado conteúdo e a debruçar-se sobre seus detalhes e complexidades, com o prazer da curiosidade despertada pelo educador (XAVIER, 2011).

Diante do desafio da educação profissional dessas gerações, podemos perceber alguns elementos fundamentais: o instrutor/educador deve se apropriar das tecnologias como auxílio e possibilidade de proximidade, e não de distanciamento dos estudantes. Ele deve estar em constante aprendizado e aperfeiçoamento do conhecimento técnico da sua área de atuação e ser um agente de estímulo e referência para sua turma. Outro elemento é a tecnologia como possibilidade de ser uma extensão dos espaços educativos, permitindo a continuação da aprendizagem e das interações iniciadas em sala, pois ela possibilita novas formas de aprender e facilita a personalização do aprendizado.

Passamos da era “Brasil, o País do Futuro”,uma vez que esta é a geração do hoje, que vive a história no momento em que ela acontece, que quer viver o presente intensamente. Se dermos mais condições para que ela faça isso consciente do seu papel como profissionais e cidadãos, com certeza estaremos caminhando em direção a uma sociedade melhor.

REFERÊNCIAS:

LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

PALFREY, J; GASSER, U. Nascidos na Era Digital: entendendo a primeira geração de nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

REQUENA, Guto. Habitar híbrido: interatividade e experiência na era da cibercultura, Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Área de Concentração: Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo) – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2007. Disponível em: < http://www.gutorequena.com.br/site_mestrado/habitar%20hibrido.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2013.

RIVELINO, R. Geração Y: criatividade e irreverência no mundo corporativo. Entrevista com Roberta Rivelino, 2013. Disponível em: <http://www.ead.senac.br/noticias/2013/10/ geracao-y-criatividade-e-irreverencia-no-mundo-corporativo/>. Acesso em: 12 nov. 2013.

RUSHKOFF’S, D. Playing the future. New York: Riverhead Books, 1999.

XAVIER, A. C. Letramento digital: impactos das tecnologias na aprendizagem da Geração Y. São Leopoldo: Caleidoscópio, vol. 9, n. 1, p. 3-14, jan/abr. 2011. Disponível em: <http://revistas.unisinos.br/index.php/calridoscopio/article/download/748/149>.  Acesso em: 8 nov. 2013.

1 Para Pierre Lévy (1999, p. 17), o termo descreve tanto a infraestrutura material desta comunicação digital, como também “o universo de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”. O teórico complementa: “Eu defino o ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores” (LÉVY, 1999, p.92). Para o pensador francês, o crescimento do ciberespaço é resultado de um movimento internacional de “jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem” (LÉVY, 1999, p.11);

2 Termo criado por Douglas Rushkoff’s, em 1997, no livro Playing the Future. Segundo ele, um Screenager é o adolescente que passa bastante tempo no computador. As atividades do Screenager são: enviar e-mail e mensagens instantâneas, fazer downloads de músicas e vídeos, jogos online e navegar na Internet. A expressão é um trocadilho entre a palavra Teenager (adolescente em inglês) e Touchscreen (interface interativa de diversos aparelhos atuais);

3 As tecnologias são prolongamentos do nosso corpo, próteses de nossos sentidos, os media são extensões do nosso sistema nervoso central, definiu McLuhan (2005).

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