Artigo

Escolher. É possível?

29 de maio de 2012 10:00

“Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente não nasce pronta e vai se fazendo.”

MARIO SERGIO CORTELLA

A partir do pensamento desse filósofo, podemos imaginar toda a dinâmica que envolve o processo da aprendizagem humana. Pois é! Fica óbvio que não nascemos sabendo… A cada instante em nossas vidas estamos nos envolvendo com novas aprendizagens e essa interação requer uma tomada de decisão. São muitos os caminhos… E o passo dado em uma determinada direção gera oportunidades específicas. Vamos entender melhor a situação focando no campo profissional. Imagine esse momento:

Chegou a hora!
É a sua vez!
Você precisa escolher uma profissão… Por onde começar?

Esse é o dilema que acomete a maioria dos jovens no momento em que se conscientizam de que precisamdesenhar um projeto de vida. Surge então uma demanda inevitável:

Como nós educadores, sobretudo os que atuam no campo da Educação Profissional, poderemos contribuir significativamente para orientar esse processo na vida dos estudantes?

Vamos com calma!
Antes, precisamos rever algumas idéias para compreendermos melhor todos os fatores que interferem no processo decisório na vida do jovem, mas também na vida de qualquer pessoa, num determinado momento de vida.

Dentre as tantas mudanças que compõem o fenômeno da globalização no âmbito econômico, político, social e, sobretudo, psicológico, as relações entre trabalho e escolha profissional sofreram grande impacto. As exigências desse novo mercado indicam um novo perfil profissional. Esse novo perfil requisita novas competências para ampliar o potencial de empregabilidade do trabalhador. Todas essas mudanças acontecem num ritmo muito acelerado e ainda não sabemos ao certo as conseqüências desse fenômeno. O que se pode constatar é que esta movimentação contribui para agravar a difícil tarefa de escolher, ou seja, hoje é mais complicado optar por um determinado caminho profissional a ser percorrido. Tanto mais quando se trata do jovem estudante que deseja ingressar no mercado de trabalho, frente às suas primeiras decisões no campo da profissionalização. Os diversos meios de comunicação divulgam com freqüência as ofertas e as condições para alcançá-las – certificados/diplomas na área, experiência comprovada, etc. E com isso revelam também as cruéis “impossibilidades” de toda ordem que acabam por transformar a vida desse jovem num constante estado de conflito. Há a necessidade de um trabalho de orientação profissional com foco na identificação e aceitação das características pessoais essenciais, à luz das várias transformações do mundo do trabalho. Essa providência é importante quando concordamos com a concepção sobre o trabalho como um elemento imprescindível para a vida humana. Um exemplo marcante que retrata bem essa idéia aparece quando solicitamos que o estudante construa o seu projeto de vida – o desejo realização profissional está presente na maioria dos projetos!

Mas afinal, quais os fatores que estão envolvidos no momento da escolha? É possível escolher? Quais as condições?

São muitas as perguntas envolvidas em todos os momentos de nossa vida. Destacamos então a importância de se entender como se pode fazer uma boa escolha, uma escolha possível, levando em consideração determinadas condições. Esse texto tem o propósito de iniciar essa reflexão, apresentando alguns elementos para o entendimento do processo de escolha. Entretanto, diante das novas exigências do mercado de trabalho, dos descaminhos frustrantes observados nas incontáveis listas de desempregados, trabalhadores insatisfeitos com a profissão que exercem, profissionais desorientados que abandonam os seus empregos para recomeçar em outros rumos, entre outros, encontramos a motivação para esta reflexão.

Sabemos que não é tão simples fazer uma escolha. Para alguns a escolha é feita por pura causalidade: apareceu a chance, ele aceita e pronto! Outros demoram muito tempo procurando aquela profissão que lhes trará felicidade. Outros, porque é uma tradição da família… Enfim, observamos que existem motivações diversas no ato de escolher uma profissão.

SOARES (2002, p. 24 e 25), a esse respeito, registrou que:

Escolher o que se quer ser no futuro implica reconhecer o que fomos, as influências sofridas na infância, os fatos mais marcantes me nossa vida até o momento e a definição de um estilo de vida, pois o trabalho escolhido vai possibilitar ou não realizar essas expectativas. (…) Portanto as expectativas das pessoas quanto ao seu futuro estão carregadas de afetos, esperanças, medos e inseguranças; não somente seus, como também os de seus familiares mais próximos.

Percebemos assim a importância da maturidade nesse processo. Escolher é um exercício que devemos praticar desde cedo, a partir de situações simples, analisando sempre os prós e os contras, até chegarmos a situações mais complexas que requeiram uma capacidade de análise mais completa. Nesse sentido, entendemos que a realidade é um fator limitante. Veja: escolher é possível, mas devem ser considerados elementos como, por exemplo, a sua situação de vida (local onde mora, tipo de família, classe social, entre outros). Por isso o ato de escolher está tão ligado com a construção da identidade. Entenda-se identidade o contexto referente ao mundo interior das pessoas. Essa identidade é construída ao longo da vida, e nela são impressas as relações marcantes para o estudante: com os pais, com os amigos, com os professores, e outros. Esse é o ponto! É fundamental entendermos a participação significativa do educador na construção desse caminho profissional do estudante.

Hoje já se discute amplamente nos meios educacionais que não deve existir uma separação entre conteúdos, estratégias e formação de valores quando de trata de orientação para a formação humana e formação técnica. Cabe a você, professor, oportunizar situações de aprendizagem que favoreçam esse desenvolvimento. A sensibilização para a construção de projetos pessoais e profissionais é uma estratégia metodológica que pode auxiliar bastante o jovem para as escolhas que precisa fazer. Dessa forma, cabe a você, por exemplo, auxiliar no exercício do pensar, conscientizar sobre os fatores que interferem na escolha, trazer informações, oportunizar reflexões contextualizadas, favorecer experiências, dentre outras ações que provoquem uma avaliação pessoal sobre os fatores importantes para uma tomada de decisão. Este é um dos caminhos… E cremos que a partir desse percurso pode-se vislumbrar uma escolha mais consciente da profissão, podendo, de fato, escolher e, quem sabe, até transformar. Mas aí já é tema para outra conversa… Então até lá!

 

Referências

LUCCHIARI, D.H.P.S. Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus, 1993.
SOARES, D.H.P. A escolha profissional: do jovem ao adulto. São Paulo: Summus, 2002.
DIAS, M.S.L. Planejamento de carreira: uma orientação para estudantes universitários. 1. Ed. São Paulo: Vetor, 2009.
SOARES, D.H.P. O que é escolha profissional. 4. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.

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